domingo, 10 de abril de 2011

Mitos na Psicanálise

"Não será verdade que cada ciência, no final das contas,
se reduz a um certo tipo de Mitologia?" (Sigmund Freud)

Morfeu e Íris (1811), de Pierre-Narcisse Guérin


Um mito é uma narrativa tradicional que  procura explicar; através de deuses, semi-deuses e herois; os principais acontecimentos da vida como os fenômenos naturais, as origens do mundo e do homem. Além disso, o mito evidencia através de símbolos o modo como uma sociedade entende sua existência, constituindo-se assim uma realidade antropológia fundamental. O mito foi primeira tentativa de explicar essa realidade.


Foi Freud quem ressignificou o conceito de mito, acrescentando que mais do quê uma narrativa antiga (e fantasiosas) de situações históricas e culturais, o  mito seria também uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de uma sociedade. Ele utilizou da mitologia grega, para exemplificar suas teorias, inicialmente com Morfeu (para explicar os sonhos), com o mito do Édipo Rei (para explicar a tendência da criança a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar), o mito do herói (o pai que se instaura como lei que proibia o incesto com a mãe), e o mito de Narciso (para explicar imagem exacerbada que os homens possuem de si mesmos).

Morfeu é o deus grego dos sonhos com habilidade de assumir qualquer forma humana e aparecer nos sonhos das pessoas.  Morfeu foi utilizado para explicar os sonhos que até então eram vistos como fenômenos que revelavam o futuro para os leigos e simples produto da atividade fiosiológica mental para os cientistas. Freud sistematizou o estudo dos sonhos em sua obra “A Interpretação dos Sonhos” (1900). A mesma, acaba por marcar o nascimento da psicanálise uma vez que delimitou o objeto da psicanálise: as idéias inconscientes. Neste processo os conteúdos mentais que foram reprimidos (excluídos da consciência) vêm à tona, mascarados, mas ao mesmo tempo carregados de significados.

Freud não descobriu o inconsciente pois antes desta obra, a idéia de dois estados mentais já era aceita. No entanto entendia-se que só quem possuía este lado inacessível da mente eram pessoas doentes e frágeis mentalmente (a exemplo das mulheres histéricas). As pessoas normais viveriam em estado de plena consciência. Freud mudou este paradigma demonstrando que os sonhos são manifestações do inconsciente e se todos sonham, logo, todos têm inconsciente.

Freud descreveu a ampla aplicação de simbolismo nos sonhos, principalmente para a representação do material sexual, fazendo uma analogia entre os símbolos oníricos e sinais da taquigrafia.  Ele percebeu também que tal simbolismo não está incutido exclusivamente nos sonhos (manifestações do inconsciente), mas também é identificado nas representações populares, como o folclore, os mitos, provérbios, chistes, etc. A interpretação dos sonhos provoca uma ruptura  radical na abordagem antropológica pois até então a filosofia, a psicologia, todas as ciências tinham se preocupado com o homem em seu aspecto consciente.  Segundo o próprio Freud, o conceito de inconsciente e a conclusão de que o homem não é senhor de seu próprio ser, em toda a sua subjetividade tem importância equivalente às rupturas causadas pelas descobertas de Copérnico de que a terra não é o centro do universo e da teoria evolucionista de Darwin.

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