segunda-feira, 13 de junho de 2011

Precisamos falar sobre o Suicídio

Por Raquel Rocha

 




O comportamento suicida é conflitante com o instinto de sobrevivência inerente ao ser humano por isso é necessário analisar o desejo de viver contra o de morrer. Apesar da ambivalência, os dados mostram um alarmante aumento do número de suicídio em todo o mundo.
Os grupos de risco são adolescentes e adultos jovens, idosos, imigrantes e indígenas. O trabalho ressalta uma diferença em relação aos gêneros no que diz respeito ao número de tentativas e ao ato levado até o fim, agravantes e atenuantes em ambos. A depressão, o comportamento antissocial, transtornos de ansiedade, problemas físicos, antecedentes familiares e privações econômicas são alguns dos fatores de risco. Além dos fatores de risco também ressalta-se algumas medidas de proteção como ter uma boa relação familiar, ter religião e participar de atividades grupais.
Pesquisas apontam que a maioria das vítimas de suicídio procuraram os serviços de atenção básica antes do ato, assim, discorrendo sobre os fatores comportamentos, fatores de risco e proteção buscamos enumerar possíveis intervenções dos profissionais da atenção primária no sentido de prevenir as tentativas e consequentemente as mortes.


         O que é o Suicídio

O suicídio é definido como ato intencional de tirar a própria vida, iniciado e levado até o fim por uma pessoa com conhecimento e propósito de um resultado final. É uma ação consciente de autodestruição. O termo “suicídio” foi utilizado pela primeira vez em 1.737 por René Louiche Desfontaines. A palavra vem do latim “sui” (si mesmo) e “caederes” (matar).  Pela Organização Mundial de Saúde, OMS, o ato é classificado como uma violência auto infligida, onde o indivíduo é sujeito e objeto desse fenômeno complexo que abarca inúmeras variáveis e remetem o indivíduo a ideia de violência máxima, o assassinato de si próprio.
Segundo dados da OMS, uma pessoa se suicida a cada 40 segundos no mundo. O índice de mortalidade por suicídio aumentou 60% nos últimos 45 anos e vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos).
O problema é subestimado, pois estima-se que as taxas de tentativas de suicídio são de dez a vinte vezes maiores que os suicídios consumados. Os dados de suicídios consumados podem ser ainda maior, pois em alguns casos, como os de mortes por afogamento, queda e overdose, é impossível determinar se a causa da morte foi ou não intencional. Não sabendo se o ato foi intencional ou não normalmente se atribui a causa da morte ao fato acidental até mesmo pelo desconforto e dor que envolve a questão do suicídio.


Homens e Mulheres

O número de suicídio é muito maior entre homens que em mulheres. Por outro lado, os dados que se referem à tentativas de suicídio revelam que as mulheres tentam o ato muito mais que os homens.
A diferença verificada em relação a letalidade pode ter como causa os métodos utilizados pois as mulheres geralmente usam métodos menos invasivos como envenenamento para não perderem a beleza na hora da morte. Já os homens usam métodos mais violentos como armas de fogo, enforcamentos ou explosivos para demonstrar virilidade.
As mulheres possuem ao mesmo tempo um agravante e um atenuante para o comportamento suicida em relação aos homens, pois enquanto as mulheres possuem uma tendência maior a depressão (maior fator de risco identificado) ela também possui mais facilidade em conversar sobre o problema com outras pessoas e procurar ajuda.


Grupos de Risco

Nos últimos quinze anos cresceram as tentativas de suicídio e o suicídio na faixa etária de 15 a 34 anos, considerados adolescentes e adultos jovens. Nesta faixa o suicídio constitui a terceira causa morte, perdendo apenas para os homicídios e acidentes. Felizmente, o suicídio entre crianças menores de 15 anos é incomum, sendo muito raro em crianças menores de 12 anos. No mundo inteiro o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte entre jovens de 15 a 19 anos. Estudos mostram que metade dos estudantes do segundo grau já tiveram pensamentos suicidas.
Os idosos constituem um grupo risco devido a grande incidência de depressão nesta faixa etária. O problema é agravado por fatores como abandono familiar, perdas materiais, de status, vigor físico, solidão, doenças crônicas e a própria proximidade com a morte.
Existe um risco aumentado de comportamento suicida  nas populações indígenas e também entre os imigrantes. Isso pode ocorrer devido ao isolamento por dificuldades linguísticas e ainda problemas de adaptação cultural. Refugiados de guerra, que sofreram tortura ou ferimentos também constituem grupo de risco. Tantos entre os indígenas quanto entre os imigrantes pode haver problemas de integração na sociedade, decorrentes de conflito de valores.


Fatores que podem levar ao Suicídio

Os fatores de risco para o comportamento suicida são complexos e diversos. É comum o indivíduo apresentar mais de um deles.
O transtorno mental está presente em 90% das pessoas que cometem suicídio. A Depressão é o mais grave de todos. Três em cada quatro pessoas que cometeram suicídio apresentaram um ou mais sintomas depressivos e muitas delas já estava com o transtorno depressivo já estabelecido há algum tempo. Os sintomas mais comuns da depressão são: dor de cabeça, dor de estômago, dor nas pernas e no peito. A depressão aliada ao comportamento antissocial são os antecedentes mais comuns em adolescentes suicidas. Importante ressaltar ainda a diferença dos sintomas depressivos entre meninos e meninas. As meninas quando depressivas se tornam quietas, e os meninos agressivos. Ambos se isolam.
Além da depressão há uma importante relação entre transtornos de ansiedades e tentativas de suicídio. Tanto as pessoas que sofrem de transtornos de ansiedade quanto os indivíduos que fazem uso abusivo de álcool ou drogas tendem a ser mais vulnerável ao comportamento suicida.
Não só os problemas mentais, mas também os problemas físicos que provocam invalidez, vergonha ou dor crônica podem levar levam o indivíduo à vulnerabilidade. Igualmente constitui um fator de risco os antecedentes familiares: indivíduos que possuem membros na família que cometeram ou tentaram cometer suicídio possuem maior probabilidade repetir o ato.
Em relação ao fator família, não só as tentativas de outros membros constituem um fator de risco, mas também a própria relação familiar ruim, onde permanece a falta de diálogo, de afeto, de tempo, autoridade excessiva dos pais ou cuidadores, agressões verbais, desrespeito, negligência, rigidez e rejeição. Também, constituem fatores de risco familiar pais ou cuidadores com psicopatologias, ou que fazem uso abusivo de álcool ou drogas bem como o divorcio ou morte dos cuidadores. A violência sexual ou física durante o início da infância quando não superada também se constitui um grave fator que pode levar ao suicídio. Os problemas familiares é um risco ainda maior para crianças e adolescentes visto que as relações familiares são de estrema importância no desenvolvimento do indivíduo.
A inconformidade com o gênero também pode se tornar um fator de risco, o homem que não se aceita homem e a mulher que não se aceita mulher. Esta inconformidade aliada a falta de coragem de lidar com o homossexualismo agrava o problema. Mesmo quando assumida sua preferência sexual o indivíduo ainda precisa lidar com os valores de sua cultura e os seus próprios, aliado ao preconceito dos pais, familiares, trabalho, escola e qualquer outros grupos sociais em que estão inseridos. Ao sentir-se rejeitados eles podem se isolar e chegar ao comportamento suicida.
Privações econômicas e socioculturais também constituem um fator de risco. Estudiosos afirmam que a pobreza, responsável pelas precárias condições de sobrevivência, o estresse econômico e instabilidade familiar geram ansiedade e comprometimento emocional, fatores que predispõe ao suicídio, que por sua vez representa um indicador de pressão da sociedade sobre esses grupos mais vulneráveis. (MENEGUEL, 2004)
Além de uma estrutura familiar ruim outros fatores podem levar ao suicídio: desemprego,  padrão de possibilidade de consumo ao seu redor maior que o do indivíduo, rejeição nos meios de convivência, baixa autoestima, desesperança e solidão.
Entre as pessoas que tentam ou cometem suicídio encontramos os seguintes traços de personalidade: humor instável, raiva agressividade, impulsividade, ansiedade, perfeccionismo. São pessoas de comportamento antissocial manipulativo, padrões rígidos no enfrentamento de problemas, que demonstram superioridade quando na verdade se sentem inferiores, vivem num mundo fantasioso e possuem baixa tolerância a frustrações.


Fatores de Proteção

Ressaltando a importância da família precisamos lembrar que é nela que vivemos as primeiras e mais marcantes experiências de nosso desenvolvimento psicossocial. Ter bons relacionamentos com os familiares, receber afeto, apoio e atenção dos pais cuidadores é um passo importante na constituição de um indivíduo seguro e feliz.
Além do bom relacionamento com os pais e familiares em geral também constituem fatores de proteção tem boas relações sociais, autoconfiança, capacidade de procurar conselho e ajuda nas dificuldades, estar aberto a ouvir pessoas mais experientes e a novos conhecimentos.
O isolamento é um grave fator de risco, então morar com outras pessoas poder importante para o indivíduo com esta tendência. Ter filhos e companheiro também constituem fatores de proteção. A nível cultural é importante que o indivíduo tenha profissão, religião, pratique esportes, tenha bom relacionamento com colegas e trabalho e escola.




REFERENCIAS

ABREU, LIMA, KOHLRAUSCH E SOARES Comportamento Suicida: fatores de riscos e intervenções preventivas.  http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/pdf/v12n1a24.pdf
BOTEGA, N. J. Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006
 MENEGUEL SN, Victora CG, Faria NMX, Carvalho LA, Falk JW. Características epidemiológicas do suicídio no Rio Grande do Sul. Rev. Saude Publica 2004; 38(Supl. 6):804-810.
Prevenção do Suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_editoracao.pdf
Instituto Univérsico de Pesquisa e Educação: http://www.iupe.org.br Acesso em 25 de setembro de 2010.
Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf
VIEIRA: "Amor não correspondido": discursos de adolescentes que tentaram suicídio.

Como Referir:  ROCHA, Raquel. Suicídio, Fatores e Risco e de Proteção. Disponível em: < http://soliloquiospsicanaliticos.blogspot.com > Acesso em: __/__/____  

5 comentários:

  1. Interessante.

    Depois de assistir a um documentário de um senhor formado em direito que queria morrer, eu passei a ver este tema de outro parâmetro.

    Conhece este documentário?

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  2. Esse assunto sempre me lembra que todos os dias esqueço que tenho que me matar. Aliás, foi nessa distração que, quase sem querer, adquiri bases tão firmes, que a cada dia aumenta a minha vontade de cuidar dos que não podem, dos que não conseguem, dos que não querem (ao menos estando por perto).

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  3. A última vez que tentei
    o suicidio
    era manhã
    e chovia na varanda.

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  4. Já tive dois primos suicidas e já escrevi muito sobre o tema, é teu texto foi muito bem organizado,

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  5. É um texto técnico, Não sei se saberia falar desse tema delicado de forma pessoal.

    No mais, adoro o comentário desse povo poeta aqui!!!

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