terça-feira, 30 de agosto de 2011

"... Assim tudo acaba em silêncio e poesia."


"Passo agora a responder à sua pergunta sobre a gênese dos meus heterônimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente. Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterônimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurastênico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenômenos da abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registro de seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterônimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenômenos- felizmente para mim e para os outros- mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contato com os outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher- na mulher os fenômenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas- cada poema de Álvaro de Campos( o mais histericamente histérico de mim ) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem- e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia..."

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Solista- Filme



“O Solista” (2009) conta a história de Nathaniel Ayers, um esquizofrênico que mora nas ruas de Los Angeles e toca um violino de duas cordas aos pés de uma estátua de Ludwig Van Beethoven. O jornalista Steve Lopez, atraído pelo som do violino se aproxima. Entre diálogos e delírios Nathaniel conta que estudou na conceituada escola de arte, Julliard. O jornalista imediatamente se interessa e começa a pesquisar sua história.

Steve Lopez descobre que Nathaniel era um aluno genial, dedicando-se música em tempo integral. Quando jovem chegou a fazer parte de uma grande orquestra. No entanto, é justamente neste época de sua vida que ele começa a ter alucinações. Essas alucinações se caracterizam como vozes que lhe atormentam todo o tempo, sobretudo quando o músico está ensaiando, ao ponto de ele largar tudo e ir morar nas ruas.

O jornalista publica a história de Nathaniel, em sua coluna sobre o cotidiano e os personagens da cidade de Los Angeles, e uma leitora comovida acaba enviando um violoncelo pro jornal para ser entregue ao incrível músico morador de rua. A entrega do instrumento a Nathaniel constitui uma das cenas da cenas mais bonitas do filme. Num túnel escuro e barulhento, o músico de rua toca Beethoven com delicadeza e entrega total enquanto o jornalista Lopez assiste agachado ao chão. O movimento de câmera lindíssimo, a câmera sai da cena subindo, saindo do túnel para mostrar o caos dos viadutos emaranhados e finalizar num vôo panorâmico de pombos que parecem aplaudir o concerto.

Do diretor inglês Joe Wright (Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação) o filme é baseado em uma história real. Como psicanalista gosto do filme por causa da aula sobre a esquizofrenia em todos os seus aspectos. Como comunicóloga, gosto das reflexões éticas a respeito de um jornalismo que deixa de existir. Como expectadora, penso que os personagens poderiam ser mais explorados em toda a sua profundidade, principalmente pelos atores que os interpretam: Robert Downey Jr. e Jamie Foxx. No fim das contas é um filme que vale a pena assistir, por todos os motivos citados, pela fotografia belíssima e claro, pela trilha sonora.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dr. House



Há anos venho alardeando aos quatro cantos o quanto gosto da série Dr. House. As vezes com uma ressalva: gosto da série e não de House. Esse é um daqueles personagens densos demais pra gente saber se ama ou odeia, ele é arrogante, sarcástico, imprevisível, infantil mas sempre brilhante.
No episódio 22 da sexta temporada descobriu-se um House extremamente humano. O melhor episódio de todos os tempos, com ele quebrando pia, arracando espelhos e dividido entre a hidrocodona e Cuddy. Esperei ansiosa pela sétima temporada, imaginando uma temporada romântica, House e Cuddy em cenas calientes, brigando e se amando nos quartos vazios do hospital (quase um Grey's Anatomy)
Achei que ele fosse mudar, mas House não tem jeito. Ele até que tentou, mas as vezes tentar não é suficiente.
No episódio 15 da sétima temporada eu finalmente descobri o porque gosto tanto de House mesmo odiando ele. As razões são puramente pessoais, inexplicáveis e complexas, mas segue aqui uma transcrição deste episódio, um dos mais profundos e incríveis que já assisti.
Cuddy descobre um tumor, durante o período em que ela faz uma série de exames House some até que finalmente aparece pra ficar ao lado dela durante a cirurgia. Quando recuperada Cuddy descobre que House precisou tomar hidrocodona pra ficar com ela.
House tenta explicar, disse que tomou porque sentiu medo de perdê-la e é nesse momento que Cuddy consegue dar a melhor explicação sobre House de toda a série.
“Você toma pra não sentir dor. Tudo o que faz é pra não sentir dor. As drogas, o sarcasmo, manter distância para que ninguém o magoe” Ela finaliza: “Quem ama sente dor.”
House tenta argumentar, pede para ela não deixá-lo.
Ela diz: “Você não estava comigo pra valer.”
Ele: “Eu queria estar.”
Ela: “Isso não basta.”

domingo, 7 de agosto de 2011

SPARTACUS


Todo mundo já ouviu falar de Spartacus, o escravo que se tornou gladiador e liderou uma grande revolução da Roma Antiga, tornando-se uma lenda.

Depois do clássico Spartacus de Stanley Kubrick (1960) e diversos outros filmes inspirados na mesma história, surge a série Spartacus dos produtores Sam Raimi e Joshua Donen. A série é simplesmente incrível! Muitas cenas de batalhas, de sexo numa extravagância de ação, erotismo e sangue jorrando em câmera lenta no mais puro vermelho que já se viu.

A fotografia do filme é impecável, em estilo HQ. As perspectivas também surpreendem como nas cenas em que a câmera está dentro dos helmos dos gladiadores mostrando como eles veem seus oponentes. Os personagens são profundos, humanos e imprevisíveis.

A série mostra alguns personagens diferentes de como os costumamos ver nas adaptações, o que não chega a ser um incômodo, afinal poucos registros existem sobre a verdadeira história de Spartacus. Enquanto os personagens ganham vida própria, a série não hesita em mostrar a sociedade daquela época com todos os seus traços de luxúria, fetiches, orgias e tudo mais.

Em Spartacus você encontra paixão, ódio, vingança, coragem, sensualidade, tudo isso com uma estética lindíssima.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Raiva e Ódio

Sentir raiva as vezes é normal e você pode extravasar esta emoção praticando esportes, desabafando com um amigo, xingando o travesseiro ou na pior dar hipóteses dando um bufete na pessoa que te causou a raiva. Já o ódio é veneno e como todo veneno pode matar.

Diferença de Raiva e Ódio

A raiva é uma emoção. O processo de geração da raiva ocorre quando os neurônios libera uma descarga de adrenalina no sangue, que leva a um aumento da frequência cardíaca, estreita os vasos sanguíneos e consequentemente aumenta a pressão arterial.

A diferença entre raiva e ódio é que a raiva é uma emoção, portanto, passageira. O ódio, no entanto, é um sentimento construído ao longo do tempo. Tanto o ódio quanto amor são considerados afetos primitivos, ambos nascem de representações e desejos conscientes e inconscientes. (Andersen 2010)

Podemos ter raiva de qualquer coisa, por menos importante que seja, já o ódio nós só desenvolvemos para com objetos de real importância para nós. A raiva é uma emoção que implica em estresse mas não mágoa. O ódio é um sentimento que causa mágoa, ressentimento, angústia e frustração.


REFERÊNCIAS

Andersen, Roberto – Módulo: Medicina Psicossomática. CEEP - Centro de Estudos Especializados e Psicanalíticos, 2010. Curso de Formação em Psicanálise, em parceria com a SOBPIEX - Sociedade Brasileira de Psicanálise em Intensão e Extensão.

Ballone GJ -Raiva e Ódio - Emoções Negativas in. PsiqWeb, Internet - disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2006