terça-feira, 13 de setembro de 2011

Resiliência

Passei o último final de semana pensando neste filme. Foi um final de semana conturbado, uma mistura de estreia de filme com aula intensiva de psicanálise. Em todas as pausas, lá me vinha este filme a cabeça.

É um filme simples, sem recursos, sem cortes, apenas um cinegrafista bom pra caramba, uma diretora atrás do cinegrafista tentando ser uma formiguinha, um produtor que viu um filme onde outras pessoas teriam visto apenas um making of.

Este filme mostra um pouco sobre o professor Antonio Lucio, apelidado carinhosamente de professor Tote. Mostra-o e a sua vida. Uma vida que ele reconstruiu em um pequeno apartamento ao ser expulso da fazenda onde morava após quatro assaltos. Mostra também seu amor pela família, pelos livros, pela natureza, pela música, pelos licores e pelo santo de sua devoção, Santo Antônio.

Professor Tote fala sobre a capela que ele cuidava com tanto amor: “A capela que minha mãe construiu na fazenda, houve doze arrombamentos, até o sagrado levaram. Mas a cada vez que eles agridem e vão de encontro a essa devoção nós recompomos, na certeza de que estamos fazendo o certo homenageando ao Cristo”

Um homem sábio com um estilo de vida próprio. Em cada frase uma lição de vida dita com uma humildade singular. Sobre este filme ele disse: “Tenho certeza de que vou gostar”. Infelizmente não houve tempo para ele assistir. No dia que eu coloquei o DVD na bolsa pra entregar a ele soube que ele havia partido para um outro plano.

Tenho um carinho todo especial por este filme, ele me fez descobrir porque eu gosto tanto de fazer documentário, pra registrar momentos como esse, de um homem sábio e simples. Um homem que se foi mas sua lição de vida fica.

Com este filme também vi a concretude dessa palavra tão bonita, Resiliência que eu já tinha estudado tanto na teoria, nas aulas da pós e da psicanálise.

O filme foi gravado há cerca de um ano e meio, editado há uns 3 meses. Eu ia entregar a ele no dia de Santo Antonio, quando soube de seu falecimento. Por um tempo me puni por não ter sido mais rápida, por não ter mostrado o filme a ele antes, agora não mas. Hoje sei que as coisas são como são. Como ele mesmo disse Resiliência: “é você não se ligar ao passado, não ficar entristecido olhando com saudades e com lamúrias para aquilo que você foi privado.”

Relembro as palavras dele “Tenho certeza de que vou gostar” e acrescento com uma agradável intuição “Tenho certeza de que ele gostou”.



Meus agradecimentos eternos ao cinegrafista João Neto e ao produtor Carlos Shintomi

Um comentário:

  1. As coisas são como são. E vá por mim, intuição dificilmente falha. Tenho certeza q dessa vez não foi diferente. É mais do que uma intuição. É sensibilidade. E eu acredito mais no que sinto do que no que vejo. Sei que você sabe bem o que é isso. Parabéns pelo filme lindo e sensivel, capturou bem a beleza da mensagem desse homem. Amiga... o que ele disse... ele tinha absoluta convicção... mas outros precisavam ver... e ouvir... e ter certeza dessas verdades e das possibilidades da resiliência. Essa foi a parte que coube a vocês. Lugar certo. Hora certa. O homem certo. A equipe certa. Tudo colaborou para uma última lição inesquecível.

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