Hugo Cabret se
passa em Paris dos anos 30 (Paris de novo!!), a primeira cena é um
plano-sequência lindo sobre Paris que termina nos olhos do pequeno Hugo Cabret,
o menino que observa a cidade atrás de um relógio na estação de trem Paris Nord
como quem assiste a um filme.
A história tem
todos os elementos pra ser uma obra prima, é baseado num best-seller com
elementos reais, é metalinguistico (todo cinéfilo adora ver cinema falando
sobre cinema) faz uma homenagem a um dos grandes pioneiros do cinema e tem a
direção genial de Scorsese. Apesar de tantas conspirações a sensação é de que
falta algo no filme, falta mais sentido, falta mais sintonia entre todos os
elementos brilhantes incutidos.
A obra conta a
história do filho de um relojoeiro (Jude Law) que morreu num incêndio, Hugo
Cabret (Asa Butterfield) precisou morar com um tio alcolatra nos bastidores da
Gare du Nord. Logo o tio desaparece mas Hugo continua a fazer o trabalho do tio
pra evitar ir pra um orfanato. Torna-se um menino triste e solitário com um
único desejo: fazer funcionar um robô que seu pai encontrou no lixo de um
museu, se agarrando a esse que é o único elemento que o liga a pessoa mais
importante de sua vida. Hugo busca no robô não só uma mensagem do seu pai mas
um significado pra sua vida: “Se o mundo é como uma grande máquina, então eu
não poderia ser uma peça extra. Eu tinha que estar aqui por um motivo.” Para
sobreviver e terminar o concerto do robô ele comete pequenos furtos até que é
pego pelo dono de uma loja de brinquedos, Papa Georges (Ben Kingsley). De
imediato o expectador percebe que existe uma ligação entre o dono da loja e o
robô quebrado.
Em A invenção de Hugo Cabret, o jovem Hugo
acaba de tonando apenas um par de olhos azuis bonitos porque todo
o foco do filme está em torno do mau humorado dono da loja que é na verdade o
grande cineastra Georges Méliès, um dos pioneiros do cinema que, desiludido, se
faz passar por morto e abre uma loja de brinquedos.
O filme traz
alguns eventos verdadeiross, Méliès realmente trabalhava como um ilusionista e
estava na plateia para a qual foram projetadas as primeiras imagens dos irmãos
Lumiere. Ele se apaixonou pelo cinema e vendeu tudo o que tinha pra montar um
estúdio de cinema, produzindo mais de 500 filmes em sua carreira. Viagem a Lua
(Le voyage dans la Lune 1902) foi sua
mais importante obra. Depois da guerra ele acabou falido (há discordância sobre
os motivos) e indo trabalhar numa loja de brinquedos. Foi descoberto por
jornalistas, recebeu algumas homenagens mas morreu pobre e sem o reconhecimento
merecido.
Algumas narrativas
se desenvolvem paralelamente a relação de Hugo com o velho dono da loja. O
inspetor da estação de trem obcecado por encaminhar toda criança que ele
encontra sozinha para o orfanato é interpretado por Sacha Baron Cohen. Ele se
parece muito com um soldadinho de chumbo, tem uma perna deficiente e sua
obsessão se justifica por ter, ele próprio, ter crescido em um orfanato. Esse
poderia ser um aspecto interessante mas a ênfase em sua obsessão e as
perseguições acabam ficando cansativas. A amizade entre Hugo e Isabelle
(interpretada divinamente por Chloe Moretz) carece de um motivo start. Também
não convence o motivo de tamanho desencanto do velho cineasta com sua arte. O
robô, figura fascinante que tanto chama atenção no inicio do filme acaba se
tornando semi-inútil no desenrolar da trama.
As interpretações são
primorosas. Destaque pra rápida mas sensível atuação de Jude Law no papel do
pai de Hugo, para a vara que Sacha Baron Cohen engoliu pra se manter tão ereto
e, sobretudo destaque para a grandiosa e
marcante atuação de Ben Kingsley.
O filme tem um
visual incrível. Segundo James Cameron, foi o melhor uso feito até então da
tecnologia 3D. Independente de tecnologia a fotografia do filme é deslumbrante,
a cidade de Paris escura como o coração dos personagens centrais, as cores que
pulsam querendo saltar do cenário escuro, a luz quase mágica e o azul dos olhos
do menino que Scorsese é mestre em retratar (lembra as cenas com ênfase aos
olhos de Leonardo DiCaprio em O Aviador).
Além da fotografia
o filme da uma aula de cinema homenageando o grande cineasta que mudou a
história inserindo e seus filmes um elemento que está presente até hoje, a
magia. A invenção de Hugo Cabret resgata cenas valiosas da obra de Méliès e é
repleto de referências como o robô do Museu d´Art et D´Histoire na Suiça bem o
epsódio do acidente ferroviário na estação de Montparnasse em 1895.
Os méritos do
filme são tantos e tamanhos que superam suas pequenas carências, é um daqueles que
não da pra não assistir. Scorsese retrata deslumbrantemente os
primórdios do cinema francês, eterniza imagens preciosas e conta pro mundo
porque o cinema é conhecido como fábrica de sonhos.
The Invention of
Hugo Cabret. Direção: Martin Scorsese. Elenco: Asa
Butterfield, Chloe Moretz, Jude Law, Helen McCrory, Ben Kingsley, Emily
Mortimer, Christopher Lee, Sacha Baron Cohen, Ray Winstone.
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eu tenho que fazer questoes sobre esse filme e uma das pergunta é que tipo de filme é esse podem me ajuar
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