segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Life of Pi





Depois de Razão e Sensibilidade, O Tigre e o Dragão, Hulk, O Segredo de Brokeback Mountain e Aconteceu em Woodstock o cineasta Ang Lee mostra que sua versatilidade não tem limites com As Aventuras de Pi.

A história de Pi é contada por ele próprio a um escritor em busca de uma história para seu próximo livro. Pi é um garoto indiano que cresce em uma família diferente, com uma nova mentalidade: pais que acreditam mais na ciência que na religião. Para o pai de Pi religião é escuridão mas apesar disso ou por causa disso Pi é religioso. “Os deuses eram meus super-heróis enquanto eu crescia” ele conta para o escritor.

Pi não é apenas hindu, ele conhece o cristianismo ao entrar em uma igreja e ver a imagem de Cristo pregado na cruz. O padre explica: “Deus fez seus filho semelhante a nós humanos, para podermos compreendê-lo. Não podemos compreender Deus em toda sua perfeição mas podemos compreender o filho de Deus e seu sofrimento como se fosse nosso irmão.”  Não satisfeito o garoto se envolve com a religião muçulmana e diz sentir uma paz no contato com Alá. Durante o jantar o pai reclama que o filho não pode ter 3 religiões “Porque acreditar em tudo ao mesmo tempo é como não acreditar em nada.” Mas Pi tem uma personalidade singular, uma determinação incomum e uma vontade de vida que vamos descobrir no decorrer do filme.

Ao relatar o episódio do jantar para o escritor Pi conclui.
Pi- “A fé é uma casa de muitos quartos
Escritor- “E nenhum quarto para dúvida?”
Pi- “Claro, em todos os andares. A dúvida é útil, ela faz com que a fé fique viva.

No meio de tantas histórias fascinantes, inclusive a que explica o nome de Pi (que eu não vou contar pra não estragar a surpresa) uma crise bate a porta do jovem. A família de Pi tem um  zoológico por conta de algumas dificuldades o pai decide se mudar para o Canadá, embarcando num navio de carga com a família e todos os animais do zoológico. O navio naufraga numa grande tempestade e Pi consegue sobreviver em um pequeno barco junto com alguns animais. Um tigre, um orangotango, uma zebra de perna quebrada e uma hiena. A hiena mata a zebra a despeito das tentativas de Pi de impedir o ataque, em seguida a hiena mata também o orangotango e por último o tigre mata a hiena.

Restam no barco Pi e o tigre. Pi tem que descobrir como sobreviver, manter o tigre vivo e principalmente não ser devorado por ele. Nessa parte o filme se arrasta um pouco com uma sequência interminável de episódios de Pi fugindo do tigre, Pi tentando dominar o tigre, Pi alimentado o tigre e Pi fugindo do tigre novamente.  Pi passa a maior parte do tempo em uma jangada que é presa ao barco através de uma corda para poder se a distanciar da embarcação em que o grande animal carnívoro faminto se encontra.  Os acontecimentos se arrastam um pouco mas nós somos compensado com a fotografia é primorosa, nessa parte do filme encontramos as imagens mais bonitas do filme,  uma verdadeira obra-de-arte. De todos os concorrentes ao oscar esse é trabalho mais belo que eu vi.

Se Ang Lee se faz um tiquinho cansativo em meados na narrativa, depois ele consegue retomar todo caráter envolvente do início e fechar com chave de ouro. O final é surpreendente, desses quem nem todo mundo entende, mas quem entende se sente maravilhado com a experiência de ter assistido a essa obra surreal.

“Obrigado, Vishnu, por me apresentar a Cristo”








Ficha técnica: Diretor: Ang Lee  -Elenco: Tobey Maguire, Irrfan Khan, Gérard Depardieu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon – Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark – Roteiro: David Magee, baseado na novela Yann Martel- Fotografia: Claudio Miranda -Trilha Sonora: Mychael Danna – Duração: 129 min – Ano: 2012

  • Life of Pi recebeu 11 categorias no Oscar 2013, incluindo melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia.
  • Há uma discussão de que o filme é um plágio  a história  “Max e os Felinos”, do brasileiro Moacyr Scliar. As obras são bem semelhantes realmente.




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      domingo, 10 de fevereiro de 2013

      Indomável Sonhadora




      Na corrida para assistir todos os filmes indicados ao Oscar antes da grande cerimônia de premiação me deparei com Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild). Filme de baixo orçamento, do diretor estreante Benh Zeitlin.

      O filme é narrado sob o olhar de uma menina de 6 anos Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) que vive isolada numa ilha com o pai alcoólatra Wink (Dwight Henry). O lugar, que eles chamam de banheira, corre o risco de ser inundado a qualquer momento mas os moradores se recusam a sair de lá. Para piorar o pai de Hushpuppy está doente e não quer se tratar. Sabendo que vai morrer ele tenta explicar a filha o quanto a vida é dura e que ela precisa ser forte para sobreviver, ser forte quase como um selvagem. Mas a menina não ouve só as palavras duras do pai, ela tenta interpretar o mundo a sua maneira ouvindo os animais, as pedras e as plantas. 

      “Sempre e em todo lugar, todos os corações batem e bombeiam e conversam de formas que não entendo.”

      A ilha acaba sendo alagada numa referência a destruição provocada pelo furacão Katrina. Pai e filha permanecem lá, navegando num barco feito com a carroceria de uma camionete, a procura de outros moradores. Eles não pensam em sair da ilha alagada, nem se revoltam diante da catástrofe, simplesmente aceitam os fatos. Não era permitido chorar, apenas lutar para sobreviver.

      É um filme surpreendente que foge do lugar comum das grandes produções mainstream. Denso na maior parte da narrativa com a câmera quase sempre em movimento dando ares de documentário a obra. Personagens reais, humanos até na desumanização provocada pela adversidade. Frequentemente vemos na TV notícias de regiões alagadas e junto com elas, notícias de saques a estabelecimentos comerciais, pessoas que não podem sair de suas casas por medo de roubarem suas coisas mesmo estando tudo embaixo da água. Em Indomável Sonhadora existe uma solidariedade incomum entre o moradores da banheira, que se ajudam e comemoram juntos a vida, por mais difícil que ela seja. Aliais, tudo nesse filme é incomum, principalmente a relação entre pai e filha, que por vezes parece rejeição, descaso, crueldade, mas que na verdade é uma relação de amor e proteção.  “Todos perdem aquilo que os fez. É a lei da natureza. Os fortes ficam para ver, não fogem”

      O filme recebeu quatro indicações ao Oscar 2013: melhor filme, diretor, atriz e roteiro. A pequena Quvenzhané Wallis agora com 9 anos é a mais jovem atriz a receber uma indicação ao Oscar, quebrando o recorde de Tatum O’Neal que foi indicada ao Oscar em 1973 com apenas 10 anos pelo filme Lua de Papel (Paper Moon) no qual ela contracenava com seu pai Ryan O’Neal. A diferença é que Tatum O’Neal levou a estatueta pra casa, coisa difícil de se repetir com Quvenzhané mas não impossível. De qualquer forma, com ou sem estatueta, a atuação da Indomável Sonhadora já é inesquecível.


      “Os animais fortes sabem quando estão com o coração fraco.”


      Ficha técnica: DIREÇÃO: Benh Zeitlin/ DURAÇÃO: 93 min /ROTEIRO: Lucy Alibar, Benh Zeitlin/ EDIÇÃO: Crockett Doob, Affonso Gonçalves/ FOTOGRAFIA: Ben Richardson
      Elenco: Quvenzhané Wallis (Hushpuppy), Dwight Henry (Wink), Levy Easterly (Jean Battiste); Lowell Landes (Walrus); Pamela Harper (Little Jo)


      Palavras Chaves: Cinema Filme Movie Opinião Comentário Resenha Crítica Oscar 2013 indicações 
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