quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A fala no Setting Psicanalítico


Freud, do livro  Totem e Tabu e outros trabalhos


"O que me vai dizer deve diferir, sob determinado aspecto, de uma conversa comum. Em geral, você procura, corretamente, manter um fio de ligação ao longo de suas observações e exclui quaisquer idéias intrusivas que lhe possam ocorrer, bem como quaisquer temas laterais, de maneira a não divagar longe demais do assunto. 

Neste caso, porém, deve proceder de modo diferente. Observará que, à medida que conta coisas, ocorrer-lhe-ão diversos pensamentos que gostaria de pôr de lado, por causa de certas críticas e objeções. Ficará tentado a dizer a si mesmo que isto ou aquilo é irrelevante aqui, ou inteiramente sem importância, ou absurdo, de maneira que não há necessidade de dizê-lo. Você nunca deve ceder a estas críticas, mas dizê-lo apesar delas — na verdade, deve dizê-lo exatamente porque sente aversão a fazê-lo. 

Posteriormente, você descobrirá e aprenderá a compreender a razão para esta exortação, que é realmente a única que tem de seguir. Assim, diga tudo o que lhe passa pela mente. Aja como se, por exemplo, você fosse um viajante sentado à janela de um vagão ferroviário, a descrever para alguém que se encontra dentro as vistas cambiantes que vê lá fora. Finalmente, jamais esqueça que prometeu ser absolutamente honesto e nunca deixar nada de fora porque, por uma razão ou outra, é desagradável dizê-lo." 

(FREUD,  1914, P. 149) 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Livro "Como trabalha um Psicanalista" de J.D.Nasio


"É inegável que a análise produz efeitos curativos. Ou seja: a análise produz efeitos de diminuição, e até de desaparecimento do sofrimento do paciente. 

São efeitos que se produzem em momentos vários do tratamento, às vezes depressa demais, desde as primeiras entrevistas, às vezes tardiamente, bem depois do término do tratamento e enfim, raramente - pelo menos na minha experiência - por ocasião das últimas sessões.

Assim, devo admitir imediatamente que tais efeitos existem e são um dos resultados maiores que possamos esperar de uma análise. "   (J. -D. Nasio) 

domingo, 27 de janeiro de 2013

O Django de Quentin Tarantino




Inspirado no western italiano da década de 60 também chamado Django do diretor Sergio Corbuccio, o filme de Tarantino faz jus ao gênero com muitos tiroteios, enquadramentos abertos, trilha sonora dramática e um herói com cara de mau. As semelhanças terminam por aqui.

O novo Django, interpretado por Jamie Foxx, é um escravo que depois de sofrer maus tratos e ser separado da sua esposa, acaba sendo comprado pelo caçador de recompensas Dr. King Schultz, (ChristophWaltz). De escravo, Django passa a ser amigo e parceiro de trabalho do Dr. Schultz. O doutor lhe dá a liberdade para juntos percorrem as fazendas do sul dos EUA matando procurados pela justiça e, nas suas palavras: “Quanto mais perigosos, maior a recompensa”.

O maior recompensa de Django não é dinheiro. Seu desejo é encontrar e libertar sua esposa Broomhilda (Kerry Washington) e ao final de várias caçadas eles chegam até a propriedade onde está a moça. O lugar pertence ao latifundiário Calvin Candie (Leonardo di Caprio) famoso por promover lutas de escravos até a morte. (Spoiler leve) Para conseguir comprar a escrava Broomhilda eles armam um plano que, claro, tinha que terminar em um desastre com muito sangue. Aliás, o sangue é uma marca presente durante todo o filme. Diferente de westerns onde os tiros levam a mortes rápidas e limpas, os tiros em Django Unchained levam a esguichos de sangue, miólos espalhados, buracos nos corpos e gritos agonizantes.


A violência é uma marca registrada de Tarantino que tem em sua biografia filmes como Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill e Bastardos Inglórios, mas a violência nesses filmes de tão exagerada acaba se tornando irreal, quase plástica, quase bela, sobretudo em Kill Bill. Em Django a violência tem uma certa dose de crueza que incomodou alguns espectadores: cenas de torturas, chicotadas até um escravo devorado por cães. Para quem não gosta de filmes violentos Django não é uma boa indicação.

Por outro lado, para aqueles que não se importam com banhos de sangue vale a pena assistir a mais essa belíssima obra de Tarantino que foi brilhante em vários aspectos como a trilha sonora, com músicas selecionadas dos discos do próprio diretor, a fotografia incrível e interpretação dos atores, destacando-se Christoph Waltz, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante em 2010 pela interpretação do Coronel Landa e nesse filme chega a ofuscar o próprio Django. Samuel L. Jackson, parceiro antigo do diretor faz uma interpretação irretocável do mordomo negro que parece odiar os negros mais que qualquer branco, e Leonardo DiCaprio na pele do cruel Calvin Candie, ator que está cada dia mais maduro, consegue surpreender a cada filme. Candie por sinal é o primeiro vilão que Tarantino confessou odiar, ele que sempre teve uma certa simpatia pelos seus vilões afirmou não encontrar nenhuma característica redimível neste. 

A película de 3 horas que aborda delicado tema da escravidão é cheia de diálogos memoráveis e mesmo com caráter sanguinolento tem uma boa dose de humor que faz com que as emoções de expectador se alternem.

Apesar do nome, o mérito da obra está mais no filme do que no personagem central que, talvez pelo sofrimento, seja frio e indiferente a tudo que não seja o resgate da esposa, diferente do Django de 1966 que conservava um certo ar de justiceiro. Mas essa questão do carisma do personagem (ou da falta dele) não torna Django Livre um filme menos sensacional, do que ele de fato é.  Sensacional, forte e polêmico, daqueles que você termina de assistir mas continua pensando nele. 



Trailer





Ficha Técnica: Django Livre (Django Unchained). Direção: Quentin Tarantino. Roteiro: Quentin Tarantino. Ano: 2012.
Elenco: Django – Jamie Foxx, Dr. King Schultz – Christoph Waltz, Calvin Candie – Leonardo DiCaprio, Broomhilda von Shaft – Kerry Washington, Stephen – Samuel L. Jackson.


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