sábado, 27 de dezembro de 2014

Au revoir les enfants- Adeus Meninos

O filme é ambientado em 1943, durante a segunda guerra, quando a França está sendo ocupada por soldados nazistas. Julien Quentin  é um garoto de 12 anos, de família rica que estuda em um colégio interno para meninos.

Apesar de sua resistência em ir para a escola e ficar longe de sua mãe ele é uma espécie de líder dos outros garotos. Sua rotina entediante muda quando o padre diretor aceita na escola 4 novos alunos. Um deles é Jean Bonnett um garoto inteligente e introvertido, que acaba sendo excluído pelos outros estudantes.

Aos poucos Julien começa a encontrar indícios de que Jean Bonnett é um judeu ao mesmo tempo em que eles se tornam grandes amigos.

Au revoir les enfants é uma produção francesa de 1987. O roteiro foi baseado na vida do próprio diretor Louis Malle. O filme ganhou o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza em 1987. Foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor filme estrangeiro e Melhor roteiro original.

Durante toda narrativa o filme mostra a rotina dessa escola, os frequentes bombardeios, a constante vigilância nazista, a escassez de alimentos, o terrível inferno europeu, as descobertas dos garotos, os medos, a proteção dos padres.

Adeus Meninos é um filme conciso, contido, com fotografia em tons neutros, sem melodramas, sem sentimentalismos ou grandes reviravoltas. As vezes nem parece um filme, e talvez esse seja o grande mérito dessa obra, que é ser o que ele realmente é: uma lembrança. Uma lembrança e um aprendizado, sobre caráter, lealdade e amizade.


Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna





segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Não leia se você quiser tomar Suco Verde


Você dorme às 4 da manhã estudando. Acorda às 6. Acorda não, você zumbisa. Daí você lembra que dizem que o tal suco verde dá energia e finalmente toma coragem de fazer a tal receita após semanas comprando couve e vendo o couve amarelar. O mundo todo está tomando menos você. É um suco mágico, emagrece, desintoxica, uma dessas coisas que inventam e você acredita que vai mudar sua vida. Dieta Detox é o que há e você está se sentindo demodê (palavra que minha professora de 80 anos usava há 20 anos).

Você se arrasta até a cozinha enguiando só de pensar no gosto da mistura. Vai até o liquidificador, coloca o couve (acho um crime alguém ingerir couve sem ser acompanhado de uma boa feijoada.) Coloca o abacaxi (pra ver se tira o gosto do couve). Abacaxi com casca porque minha mãe passou a vida me dizendo que a “vitamina tá na casca”.  Algumas rodelas de pepino (penso que pepino foi feito exclusivamente para saladas, no máximo para colocar nos olhos cansados) Uma folhinha de hortelã (que foi feito para molhos à bolonhesa). Salsinha, um pouco de brócolis, um limão. Não, dois limões, (para ver se tira o gosto de tudo).

Olho para o gengibre. O gengibre olha para mim. Tenho certeza de que se eu colocar o gengibre vou jogar o liquidificador de suco todo fora. Então deixo o gengibre pro yakisoba.

Bato tudo. O resultado é um mingau verde que eu não quero nem cheirar. Passo tudo numa paneira. (Penso como alguém consegue tomar  sem coar). Bagaços pra todo lado. A cara não melhora. Coloco um pouco de mel e experimento. Um horror... azedo, amargo, temperado, tudo ao mesmo tempo. Coloco açúcar mascavo. Ainda tá horrível. Coloco gelo, muito gelo. Quando a coisa é bem gelada você não sente o gosto direito. Gelo anestesia. Preciso anestesiar minha boca, garganta, estômago e alma para conseguir beber aquilo. Não adianta.

Coloco açúcar normal, coloco mais gelo. Coloco mais açúcar, coloco mais gelo. O liquidificador transborda. A cozinha tá uma bagunça. Talos, cascas,  bagaços e respingos de suco por toda parte.

É agora ou nunca: Coloco um pouco do suco em um copo de 200 ml. Tem que beber na hora se não perde as propriedades. Tampo o nariz e gute, gute, gute. Parece que estou bebendo uma salada doce. Eca. Achei que o gosto do couve seria pior mas é o pepino que me atinge com um golpe de misericórdia. Chego valentemente até o final do pequeno copo. Olho pro liquidificador ainda cheio e penso “Vou jogar esse restinho fora só porque não adianta guardar pra beber depois”.

A cozinha ta uma zona de guerra entre alienígenas. O sono continua. Estou atrasada  para começar a trabalhar. Respiro fundo lembrando da Yoga (isso sim é milenar), elevo meus pensamentos ao cosmos e faço um bom e velho cappuccino de chocolate.

Odeio modinhas.

Me rendo à desonra. Será mais fácil aceitar me tornar uma velha enrugada, gorda e intoxicada do que passar por isso todos os dias.

Aceito o meu destino infame para sempre. Ou pelo menos até que surja uma nova receita (ou semente, erva, fruta) que prometa mudar a vida de todos de forma definitiva até que seja substituída por outra.




quarta-feira, 19 de novembro de 2014

To Catch a Thief - Ladrão de Casaca



Um filme do mestre do Suspense Alfred Hitchcock: “To Catch a Thief”,  no Brasil Ladrão de Casaca. Na trama de 1995  temos como protagonista o ex-ladrão de jóias John Robie, conhecido como "O Gato". Ele já está longe do crime há muitos anos mas, nos últimos tempos surgiu alguém cometendo diversos roubos de forma muito semelhante a sua, no passado. Como a fama o persegue, ele acaba sendo acusado desses roubos.

No intuito de limpar seu nome, John vai atrás do verdadeiro ladrão. Para isso ele precisa antecipar os atos do criminoso e estar nas cenas dos crimes para tentar dar o flagrante. Mas essa atitude arriscada o compromete ainda mais. A história se passa em meio às belas paisagens da Riviera Francesa e no decorrer da investigação John Robie conhece a milionária Frances Stevens (Grace Kelly).

Os figurinos da personagem de Grace Kelly são deslumbrantes. Foram desenhados por Edith Head, que em seu currículo conta com 35 indicações e 8 Oscars.

Esse foi o último trabalho de Grace Kelly com Alfred Hitchcock já que durante as gravações desse filme ela conheceu o príncipe Rainier de Mônaco e se casaria com o mesmo no ano seguinte, em 1956, deixando a carreira de atriz para virar Princesa.

Fim de carreira para Grace Kelly e recomeço para Cary Grant que havia decidido se aposentar em 1953, mas interrompeu a aposentadoria para gravar To Catch a Thief e depois desse filme acabou fazendo mais doze, só parando em 1966.

Ao todo foram 4 filmes resultante da parceria entre Grant e Hitchcock: Suspeita (1941), Interlúdio (1946),  Ladrão de Casaca (1955),  Intriga Internacional (1959). Já Grace Kelly estrelou com o mestre: Disque M para Matar (1954) Janela Indiscreta (1954) e Ladrão de Casaca (1955)

O filme levou o Oscar de melhor fotografia em 1956. É um filme que foge ao estilo de Hitcock por ter um tom mais romântico. (Em não vou revelar o momento em que Hitchcock aparece nesse filme porque procurar Hitchcock em seus filmes é uma diversão a parte.)

A trama pode não ser das mais surpreendentes mas ainda assim vale a pena assistir, os planos de filmagens são incríveis, as cores marcantes, os diálogos perspicazes e mesmo fugindo ao estilo ainda conseguimos ver as marcas de um dos maiores gênios do cinema. 

domingo, 19 de outubro de 2014

Substâncias Psicoativas- História e Cenário Atual



O Álcool e a Maconha na História

A história do álcool no Brasil remonta já à época da colonização. Os portugueses, ao chegaram no Brasil se depararam com uma bebida produzida pelos indígenas a partir da fermentação da mandioca, chamada cauim. Os portugueses, bem como outros europeus, já conheciam o vinho e a cerveja, mas estas não eram tão fortes quanto a bebida produzida pelos indígenas. Os índios também usavam o tabaco, que também já era conhecido pelos portugueses.

É importante ressaltar que os indígenas consumiam esta bebida em festas e rituais, havia, portanto, uma espécie de controle devido a demarcação cerimonial e religiosa.  Não há relatos de dependência alcoólica nessa época como acontece hoje, em que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pelos indígenas (seja pela condição de extrema pobreza, perda de identidade cultural ou convivência com o homem branco) se tornou um grave problema.

Voltando aos tempos da colonização, os portugueses logo aprenderam a produzir a cachaça a partir da cana de açúcar.  “O açúcar para adoçar a boca dos europeus, como disse o antropólogo Darcy Ribeiro, da amargura da escravidão; a cachaça para alterar a consciência, para calar as dores do corpo e da alma, para açoitar espíritos em festas, para atiçar coragem em covardes e para aplacar traições e Ilusões.” (Supera, Mod 01, pág 12) E até hoje, a cachaça está entranhada na cultura brasileira que encontra motivos para o uso do álcool tanto na alegria quanto na tristeza. Seu alto teor de álcool e seu menor custo fazem com que este venha a ser um problema de grandes proporções.

O uso do álcool não está atrelado somente a vontade de beber, ele está relacionado a diversos outros fatores, entre eles sociais (bebe-se para fazer parte de um grupo), culturais (vinho no natal, licor no São João, espumantes para comemorar vitórias), por isso é muito importante consideram o uso do álcool em um contexto mais amplo.

Além da diversidade dos fatores que levam ao consumo, há também diferença nas consequências desse consumo: Sob a mesma quantidade álcool algumas pessoas se tornam mais agressiva, outras mais alegres, outras mais depressivas. Essa variação no efeito de substâncias psicoativas depende das propriedades farmacológicas, da pessoa que usa, do ambiente e do contexto.

“A embriaguez do alcoolista supõe um homem tornado objeto, incapaz, a partir de então, de se abster de bebidas perturbadoras. Muitas vezes sua dependência está relacionada a uma incapacidade de encontrar em si próprio o que permitiria um domínio, uma resistência às dores do mundo.” (Michel Onfray, filósofo francês)


A Maconha

O uso de maconha com fins medicinais é antigo, remonta de 2.700 a.C. Na Europa também era utilizada com a mesma finalidade durante os séculos XVIII e XIX. Marcelo Ribeiro, psiquiatra da Unifesp explica "A maconha foi utilizada especialmente na Índia, no Oriente Médio e na África. Na índia é utilizada dentro de rituais religiosos e no Oriente Médio entre a população mais pobre"

No Brasil ela foi introduzida pelos escravos africanos no século 16 e difundida também entre os Indígenas, da mesma forma, usada com propósitos medicinais e nas atividades de recreação.


"Os escravos traziam nas barras dos vestidos, das tangas. No século XVII, o vice-rei de Portugal mandava carregamentos de sementes de maconha para que a planta fosse cultivada no Brasil em grande quantidade. Então, a maconha era extremamente importante como produtora de fibra. A descoberta do Brasil se deu, em parte, por causa da maconha. As velas das nossas caravelas eram feitas de cânhamo. Cânhamo é maconha", conta o psicofarmacologista da Unifesp Elisaldo Carlini. 

“No Brasil, no final do primeiro quarto do século XX, segundo descrição de Pernambuco-Filho & Botelho, distinguiam-se duas classes de “vícios”: os “vícios elegantes”, que eram o da morfina, da heroína e da cocaína, consumidos pelas elites (brancas, em sua maioria) e os “vícios deselegantes”, destacando-se o alcoolismo e o maconhismo, próprios das camadas pobres, em geral, formadas por negros e seus descendentes. “(Supera, Mod 01, pág 18) No entanto, em pouco tempo o uso espalhou-se também entre as classes mais altas. Apesar disso permanece no imaginário social o estereótipo “pobre - preto - maconheiro - marginal - bandido”



Inalantes, Cocaína e Crack no Brasil

 Os inalantes são geralmente utilizados pelas classes sociais mais vulneráveis. Estudos nas décadas de 80 e 90 apontaram maior uso entre crianças e adolescentes, a maioria deles moradores de rua. Conseguimos compreender melhor essa ralação ao analisarmos os efeitos dos inalantes no organismo: redução da sensação de fome, frio e dor bem como alucinações.

Em relação a cocaína pesquisas tem apontado um aumento do consumo nas últimas décadas. A folha de coca tem sido usada há milênios pelos povos andinos para diminuir a fadiga e o cansaço. No Brasil ela já foi comercializada pelo laboratório Bayer, indicada para situações de cansaço e desânimo. O crack é uma forma de cocaína preparada para o consumo via inalação. Os registram mostram que ela começou a ser utilizada há pouco mais de 20 anos, mas apesar de recente seu uso tem aumentado muito devido ao seu menor curso (em relação ao pó da cocaína), efeito rápido, utilização mais fácil (fumado)


Redução de Estigmas e Estereótipos

Para lidarmos com o problema de forma eficiente é necessário deixar de lado os estigmas e os estereótipos. Estigma, segundo o dicionário Aurélio é uma marca, cicatriz perdurável. Essa marca, que pode ser física ou social, tem conotação negativa e levam o sujeito que a carrega a ser marginalizado. Já estereótipo é uma visão preconcebida de pessoas ou grupos, uma generalização que é feita sem o conhecimento mais apurado do sujeito ou grupo.

É importante evitar ideias arraigadas como a de que a droga é uma porta sem saída. Pesquisas nos EUA revelam que 92% dos jovens que experimentaram drogas uma vez não seguem fazendo uso regular, mas na medida em que essa concepção é disseminada, além de aumentar o estigma do usuário, ela pode ser internalizada pelo próprio sujeito desmotivando-o “Se não há saída porque eu vou procura-la?”. Da mesma forma, é importante evitar conceitos como “Sem força de vontade” ou “mau caráter.”. É o que o estudo em questão chama “Estigma Internalizado”, quando a pessoa acaba por acreditar e aceitar as características que lhe são atribuídas.

A desvalorização, humilhação e isolamento nada contribuem para a recuperação do sujeito, pelo contrário, leva a uma perda da autoestima e da crença em si próprio e na sua possibilidade de recuperação.  Também ao usuário não deve ser atribuído a imagem de coitadinho ou frágil, os princípios e práticas de Redução de Danos preconizam que os usuários de drogas devem ser agentes ativos de seu próprio tratamento bem como de outros usuários, compartilhando suas experiências e orientando. Mais do que um agente ativo o usuário precisa ser o protagonista na mudança de vida. 

Para concluir essa abordagem inicial sobre o assunto, recomendo a todos o filme "Bicho de Sete Cabeças" de 2000 dirigido por Laís Bodanzky baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno chamado "Canto dos Malditos". O filme versa sobre um jovem Neto (Rodrigo Santoro), que é internado em um hospital psiquiátrico após seu pai descobrir um cigarro de maconha em seu casaco.


Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna


Esse texto faz parte de uma série de textos produzidos por mim a partir dos estudos no curso SUPERA (Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento) da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça (MJ), oferecido por meio da parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).




terça-feira, 7 de outubro de 2014

Compartilhando o Pão



Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna


Imagem: Katie m. Berggren

Lembro da minha mãe fazendo sanduiche para a gente. Ela tinha um ritual que na época eu não entendia muito bem. Ficávamos todas em volta da mesa esperando cada uma o seu. Então ela partia o pão no meio, colocava as coisas dentro, fechava o pão, dava uma mordida e entregava para a primeira filha. Depois ela repetia o mesmo processo: preparava sanduiche, dava outra mordida e entregava para a segunda. Quando ela entregava o da terceira filha, a primeira pedia outro e pão e ela recomeçava todo o ritual. 

Passados os anos, refletindo com sabedoria e saudade, achei que entendi o motivo das suas mordidas: Ela não tinha tempo de preparar o sanduiche dela então ela ia comendo enquanto preparava o nosso. Minha teoria se confirmava no fato de que no final, raramente ela comia, porque já tinha se alimentado das mordidas nos repetidos pães que preparava para a gente. Sanduiche caprichado, um simples pão com manteiga, as vezes uma tapioca...  Não importava, ela sempre repetia seu estranho ritual da mordida.

Eu também preparo sanduiche para minhas filhas. Normalmente para uma de cada vez. Não tem fila em volta da mesa, elas gostam de coisas diferentes, comem em horários diferentes. Então preparo só dois sanduiches, o da filha em questão e o meu. O engraçado é que quando percebo, assim como minha mãe fazia, já mordi o sanduiche delas antes de entregar.  Não é racional, não tem função de me alimentar, afinal é só uma mordida, e eu vou preparar o meu logo em seguida. Mas quando percebo, já mordi.

Passaram-se mais anos. Refletindo agora, com mais sabedoria e mais saudade, acho que entendo o verdadeiro sentido do ritual dela. Não era se alimentar, era compartilhar... Compartilhar o pão e se alimentar de todo amor que foi colocado nele.

Espero que minhas filhas um dia também mordam o pão antes de entregar para as filhas delas.

Obrigada mãe,
Eu te amo.


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O Monstro da Depressão

Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna


A Organização Mundial de Saúde define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimento de culpa e baixa autoestima. Além dos sintomas da depressão em si o paciente costuma apresentar também distúrbios do sono ou do apetite. O primeiro pode acarretar sensação de cansaço e dificuldade de concentração.

A depressão pode ser resultado de uma desarmonia no cérebro devido a uma diminuição na quantidade de neurotransmissores como a serotonina noradrenalina. Essa desarmonia pode ser causada por fatores biológicos, psicológicos  e/ou ambientais.

O tratamento pode ser medicamentoso ou psicoterapêutico. Ou ambos dependendo do caso. João Fernandes Teixeira- PHD pela University of Essex (Inglaterra) aponta os benefícios do tratamento terapêutico: “Estudos recentes mostraram que a Psicoterapia altera de maneira significativa o funcionamento e as conexões cerebrais. Constata-se uma mudança no fluxo sanguíneo do sistema límbico e que, em alguns casos, quando está associada a medicação, o aumento do fluxo sanguíneo chega também aos gânglios basais. A ressonância magnética funcional e a tomografia axial mostram que no caso de pacientes que sofrem de depressão, a terapia opera mudanças no córtex frontal, no córtex cingulado anterior e no hipocampo. Uma reorganização da conectividade cerebral ocorre após a psicoterapia. Psicanálise, Psicoterapia e Neurociência convergem quando adotamos uma perspectiva naturalista acerca do mental” Artigo Psicanálise e Neurociência 0 Revista Filosofia, n 50.

A Depressão é uma doença grave que leva o indivíduo ao sofrimento extremo. É a maior causa de suicídio no mundo. Nunca deve ser subjugada nem escondida. Mas com o tratamento adequado a Depressão pode diminuir ou até desaparecer por completo. 

O vídeo abaixo, feito pela OMS, mostra como o transtorno se instala, se torna um monstro e toma conta da vida do indivíduo.  Mas sempre é possível vencer esse monstro.

Por favor leve essa mensagem adiante.




O Vídeo foi uma contribuição da pedagoga Simone Caetano

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Por um Brasil de Bicicletas


Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna

Foto: FGV

Não tenho bicicleta. Há mais de 15 anos não ando de bicicleta (nem na academia). Mas gostaria muito de andar de bicicleta, ir a lugares próximos, fazer um passeio no domingo com a família toda, cada um em sua bike, pedalar por parques, avenidas. É quase um sonho. Já vi essa rotina em vários países e fiquei encantada.

Infelizmente ainda não é possível fazer isso em minha cidade, por falta de segurança e consciência da população. Admiro os amigos (todos homens) que começaram a adotar as bikes, mais para o laser do que para a rotina. Um deles foi atropelado por um carro (sem ferimentos graves) outro teve sua magrela roubada, mas mesmo assim vejo as pessoas cada vez mais pensando em comprar uma bicicleta e fico apostando na vitória desse meio de transporte.

Os benefícios são inúmeros, começando pela saúde, maior resistência cardiovascular, ganho de massa magra, oxigena o cérebro e emagrece. Nas cidades que adotaram a bike como seu principal meio de transporte o índice de obesidade e problemas cardíacos diminuiu consideravelmente.

É sustentável, não polui. É o veículo mais eficiente já inventado levando em conta a energia empregada e o resultado obtido. Se a preocupação não for com o planeta pode-se pensar no bolso, com a magrela não há custo com combustível, seguro, IPVA, estacionamento. A manutenção é muito barata e elas duram anos e anos. Claro que nossa bicicleta é uma das mais caras do mundo, 54% mais cara que nos EUA por exemplo. E nosso poder aquisitivos é bem menor. Mas mesmo com essa esculhambação (tudo no Brasil é mais caro) ter uma bike ainda é infinitamente mais barato que ter um automóvel.

Também é mais seguro: dificilmente uma colisão entre duas bicicletas ou um atropelamento de pedestre será fatal para os envolvidos. Bem diferente dos carros pois segundo a OMS o Brasil aparece em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito.

Não podemos esquecer: Menos congestionamento, já que uma bicicleta ocupa menor espaço nas ruas das cidades. E nem adianta argumentar que no carro cabem mais pessoas porque o que vemos no trânsito das grandes cidades, na maioria das vezes, são motoristas sozinhos dentro do veículo.

Claro que existem exceções, crianças pequenas, idosos debilitados, deficientes físicos e é pensando neles que precisaríamos deixar o trânsito mais livre, o ar mais limpo, a cidade menos barulhenta e paisagem mais clara.

Parece utópico mas não é. Num país como o Brasil, onde o combustível é muito mais caro que em outros países, onde o carro é mais caro, um país no qual a população está cada vez mais obesa, onde a sociedade vive estrangulada com as contas do mês, onde temos um clima maravilhoso para sair pedalando, nós só precisamos de ações governamentais: ciclovias, ciclo-faixas e campanhas de conscientização.

Eu não entendo como os governantes não enxergam todos os benefícios da adoção da bicicleta, mesmo como veículo alternativo: menos gasto com saúde, menos gasto com manutenção de ruas e avenidas. Mas enfim, há muitas coisas que não entendo em nossos governantes.

 Não tenho bicicleta. Há mais de 15 anos não ando de bicicleta. Mas gostaria muito de andar de bicicleta. Espero ansiosamente pelo dia em que as cidades ofereçam condições mínimas para que eu possa sair pedalando com minhas crianças. Não sou celebridade (Obama e Schwarzennegge estão na campanha!), não tenho cargo público, nem poder de mudança. A única coisa que posso fazer é parar para escrever esse texto, na esperança que textos, e vozes, opiniões e cobranças da própria população,  possam colocar o nosso Brasil em cima desse veículo que tem mais de 2.500 anos de idade e continua mais atual do que nunca.



Imagem: http://crocomila.blogspot.com.br/

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Robin Williams- Meus filmes preferidos


Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna


Morreu nesta segunda-feira, 11 de agosto de 2014, o ator americano Robin Williams. Ele tinha 63 anos.  Forte, sútil, vilão, herói, emocionava a todos com uma interpretações carismáticas que marcaram a nossas vidas.

Foi uma criança tímida. Sua primeira imitação foi de sua avó. Entrou para o teatro da escola para vencer a timidez e seu talento fez com que ele fosse  admitido para a Juilliard School, renomada escola de música e artes cênicas de Nova York. Nesta escola ele conheceu o Christopher Reeve de quem se tornou grande amigo por toda vida.

No final da década de 1970 já famoso Robin Williams se vicia em cocaína. Disse ter superado o vício em 1983 ano do nascimento do seu filho mas em 2006  ele tem uma recaída e se interna em uma clínica de reabilitação. Além da cocaína o ator também tinha problemas com álcool.

Se dedicou a diversas causas beneficente. Junto com sua esposa fundou uma organização filantrópica que arrecada fundos para diversas instituições de caridade.  Mas seu maior exemplo de humanidade nasceu da sua amizade com o colega Christopher Reeve. Paraplégico após acidente com um cavalo em 1995, o ator pode contar com a ajuda do amigo em suas horas mais difíceis, inclusive arcando os custos hospitalares do seu tratamento. Após seu falecimento em 2004 e de sua esposa em 2006, Robin Williams adotou o único filho do casal: William Reeve.

Além do vício em álcool e drogas o ator lutava também contra a depressão. No início de julho deste ano (2014) buscou ajuda mais uma vez em outra clínica de reabilitação. Robin Williams, no cinema, foi radialista, médico, professor, gênio, babá, psicanalista, androide e até alienígena. Mas na vida real foi um lutador, lutou pela sua recuperação, lutou pelos seus amigos, pela sua família, lutou por quem não tinha nada. Que sua vida não fique marcada por um único momento de desistência que o tirou de nós.

Ao todo, estrelou mais de 70 filmes, vou citar aqui alguns entre os meus preferidos:

1- Awekenings- Tempo de Despertar (1990)
2- Insomnia - Insônia (2002)
3- Dead Poets Society - Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
4- Bicentennial Man- O Homem Bicentenário (1999)
5- What Dreams May Come - Amor além da Vida (1998)
6-  Anjo de Vidro (2004)
7- Good Will Hunting- Gênio Indomável (1998).
8- Patch Adams (1998)

Goodbye my captain



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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Rubem Alves e Os Ipês-Amarelos

Raquel Rocha
Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna


Uma perda irreparável. O escritor, educador e psicanalista Rubem Alves que faleceu aos 80 anos, no fim da manhã deste sábado (19 de julho) em decorrência de falência múltipla de órgãos.  

Um dos pensadores mais respeitados do Brasil, Rubem Alves deixa contribuições no campo da pedagogia, da filosofia, da teologia, da mente humana e da literatura. O escritor era membro da Academia Campinense de Letras e professor-emérito da Unicamp.  Em sua bibliografia consta mais de 120 títulos.

Perdemos um grande pensador, uma mente inquieta e revolucionária mas que deixa exemplos e ensinamentos para muitas e muitas gerações.

"Foi então que perceberam a tolice do rei, ao tornar obrigatória a alegria e ao tornar proibidas as tristezas. Porque a vida é uma mistura de alegrias e tristezas." (Rubem Alves in O decreto da alegria)

Conhecia Rubem Alves sobretudo pelos seus textos ligados a Psicanálise. Amava sua forma leve de escrever e a poesia em cada palavra. Ele era brilhante. Soube era seu desejo que seu corpo fosse cremado e as cinzas jogadas debaixo de um pé de Ipê Amarelo.  Ela não queria tristeza, em vez de orações queria que lessem poemas de Cecília Meireles e Fernando Pessoa.  Seu pedido foi atendido e ele se tornou um Ipê Amarelo, todos os Ipês Amarelos do mundo, porque "as pessoas são aquilo que amam."

Abaixo o texto belíssimo desse escritor que deixa uma grande obra e uma grande saudade.


Os ipês-amarelos por Rubem Alves

Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.

Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.

Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.

 Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".

Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.

Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.

Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.


Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...