segunda-feira, 19 de maio de 2014

Saving Mr. Banks- Resenha do Filme e Análise Psicanalítica

WALT DISNEY NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS 

Em 1934, aos 35 anos a escritora australiana Helen Lyndon Goff (1899-1996) publica seu primeiro livro sob o pseudônimo P. L Travers. A obra infanto-juvenil com o título de Mary Poppins tem como personagem principal uma misteriosa babá inglesa, que aparece voando durante uma tempestade de vento para cuidar das crianças da família Banks, cujo patriarca é um banqueiro. O livro vira um grande sucesso entre as crianças.

Poucos anos depois Walt Disney (1901-1966) conhece a história através de suas filhas, e fica encantado com a babá mágica. Presumindo o grande sucesso da história no cinema faz contato com o agente da escritora para comprar os direitos de adaptação da obra. Ela recusa a proposta veementemente. A recusa se repetiu no ano seguinte, e em todos os anos, durante os 20 anos posteriores. O criador dos estúdios Disney não desistiu, até que em 1961, Pamela Lyndon Travers (como era conhecida) passando por dificuldades financeiras e correndo o risco de perder a casa onde morava, resolveu considerar a venda dos direitos.

Apesar da necessidade, Pamela estava cheia de reservas e impôs uma série de exigências para a adaptação, deixando claro que só assinaria o contrato após aprovar o roteiro. O filme "Walt Disney nos Bastidores de Mary Poppins" retrata as duas semanas em que Pamela Travers (interpretada pro Emma Thompson) viaja de Londres para Los Angeles para participar da criação do roteiro e das músicas do filme.

Pamela é uma mulher séria, formal, sisuda, de opiniões firmes. Ela odeia tudo no roteiro, não quer o filme seja um musical, não quer que sua personagem cante e dance, não quer animações no filme, teme que Walt Disney (Tom Hanks) transforme a sua babá em “algo fofinho e saltitante”.

Pamela Traveres:

“I know what he's going to do to her. She'll be cavorting, and twinkling, careening towards a happy ending like a kamikaze.”

“Eu sei o que ele vai fazer com ela. Ela vai ficar saltitando e cintilante, correndo em direção a um final feliz como um camicase.”

Nas reuniões de criação, gravadas conforme sua exigência, com o roteirista Don DaGradi (Bradley Whitford) e os músicos Richard e Robert Sherman (Jason Schwartzman and B.J. Novak), Pamela implica com absolutamente tudo: vírgulas, palavras, números das cenas, nome dos personagens, canções, atores, storyboard.  Começa a fazer exigências descabidas como: “não quero a cor vermelha no filme” na esperança de que desistam da adaptação do seu livro, mas Walt Disney parece disposto a levar Mary Poppins para as telas de qualquer jeito.

As atitudes de Pamela, mostram sua personalidade amarga. Ela exige que todos a tratem como senhora, parece repudiar qualquer tipo de proximidade com as pessoas e reclama do excesso de “fantasia” “Imaginação”.  Pamela demonstra sofrer terrivelmente com cada aspecto lúdico que tentam dar a sua personagem. “O script é horrendo, é pobre é vazio como eu esperava...”

Paralelamente as turbulentas discursões entre Pâmela, o roteirista, os músicos e Walt, o filme usa de flashbacks para mostrar imagens antigas de uma menina aos 7 anos,  Ginty, encantada com seu pai, que estimula sua imaginação e a faz acreditar que o mundo é mágico.

Travers Goff (pai):

“Don't you ever stop dreaming. You can be anyone you want to be.”

“Nunca pare de sonhar. Você pode ser quem você quiser.”

O filme é dirigido por John Lee Hancock, diretor de The Blind Side e roteirista de A Perfect World. Com excelentes atuações de Tom Hanks e Emma Thompson o filme alterna entre o drama da menina que começa a se decepcionar com o pai e a comédia dos diálogos, baseadas em gravações reais entre a rígida Pamela e os criadores do filmes. Este é o primeiro longa a retratar o grande empresário Walt Disney (que merece um filme contando sua própria história que é fascinante) e embora distorça o verdadeiro final da turbulenta relação entre Walt e Pamela, vale a pena assistir para conhecer um pouco dos bastidores de musical que foi finalizado 1964, ganhou 5 Oscars e entrou para a lista dos 24 maiores musicais de todos os tempos.


PAMELA, HELEN E A PSICANÁLISE

(Aviso: Spoiler)

Apesar da menina retratada no flashback ser chamada de Ginty, fica claro para o expectador que a menina sonhadora se trata da rígida escritora. Pamela Lyndon Travers aliais nasceu como Helen Lyndon Goff. Na publicação de Mary Poppins ela assina como P.L. Travers, em parte porque era comum as mulheres usarem apenas as iniciais de seus nomes nas publicações já que existia um certo preconceito com escritoras do sexo feminino. Mas ela foi mais longe, mudou de Helen para Pamela e acrescentou o sobrenome Travers por causa do seu pai, o banqueiro Travers Goff.  

O pai da menina que a princípio é seu herói, carinhoso e companheiro vai se mostrando irresponsável com a família, se entregando ao vício do álcool, relapso com seu emprego de gerente de banco e até agressivo com a esposa. A menina vai encarando, a cada flashback, a dura realidade diante de seus olhos. Sua mãe tenta suicídio, seu pai cai de cama tuberculoso, sua casa está um caos e a menina vê seu mundo desmoronar até que aparece uma tia durona para colocar ordem na casa e na vida daquela família que está se desestruturando.

A tia na qual a menina depositou toda sua esperança de salvação foi sua inspiração para Mary Poppins. Sua tia chega para organizar a vida da sua família assim como a sua personagem Mary Poppins chega para organizar a vida da família Banks.

A amargura da mulher adulta decorre da decepção na infância. Seu pai vivia no mundo da fantasia e isso o levou a ruína. Logo Pamela cresce negando tudo que é fantasioso e lúdico.

Na situação desesperadora de sua família quem trouxe luz foi rígida tia. A tia que chegou arrumando a bagunça, distribuindo as tarefas, as obrigações, mostrando a realidade como ela é. Por isso doía tanto a Pamela ver a distorção de sua personagem Mary Poppins, porque a Mary Poppins do filme contrariava tudo que sua tia representava. Isso fica claro em uma das discussões quando ela enfatiza: “Mary Poppins é inimiga da fantasia e do sentimento. Ela é sincera. Ela não cobre com açúcar as trevas do mundo que essas crianças vão inevitavelmente conhecer. Elas as prepara para isso. Ela lida com honestidade. Cada um tem que limpar o seu quarto, ele não vai se limpar sozinho por mágica. Então todo esse script é sem sentido! Onde está o coração? Onde está a realidade? Onde está a seriedade?”

Deixar mudar sua personagem é como trair sua tia e trair tudo o que a própria se tornou após a dor de ver seu mundo desabar: Isso a faz sofrer e lidar com sentimentos que ela negou ao longo da vida. Mais do que negar seus sentimentos, ela nega a si própria no momento em que decide mudar seu nome de Helen para Pamela. Em um telefonema no meio da noite para seu agente ela desabafa: “Eu tenho sonhos estranhos, como se meu subconsciente tivesse sempre atrás de mim, sempre me punindo, por considerar a ideia de que eu possa estar me rendendo.  Estou em guerra comigo mesma.”

Muito mais do que organizar a rotina da casa, a menina deposita na tia a esperança de que esta salvasse seu pai, tuberculoso e alcoólatra. Assim também é sua Mary Poppins, personagem através da qual a escritora sublima suas angustias. Mary Poppinse aparece não para salvar as crianças, mas sim o pai das crianças, o frio banqueiro Mr. Banks.  A babá o salva ensinando-o a ser pai.


“Porque contadores de história fazem isso. 
Restauramos a ordem com a imaginação, 
Trazemos esperança outra vez, outra vez e outra vez.”


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Lista de Filme sobre Mães

Lista especial para o Dia das Mães



1. Volver-  de Pedro Almodóvar 



2. A Troca- de Clint Eastwood


3. Minha mãe é uma peça –  André Pellenz



4. Mamma Mia - Phyllida Lloyd




5. Erin Brockovich- Steven Soderbergh


6. Os incríveis - Brad Bird




7. Tão forte Tão Perto- Stephen Daldry




8. Um Sonho Possível - John Lee Hancock



9. Uma prova de amor-  Nick Cassavetes



10. Zuzu Angel - Sérgio Rezende




11. Cazuza O Tempo não Pára- Sandra Werneck e Walter Carvalho