segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O Adolescente e as Drogas



Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
 
Foto: Jon Díez Supat
 O Adolescente e as Drogas

 A palavra adolescência segundo o dicionário Aurélio refere-se ao período da vida humana que sucede à infância, começa com a puberdade, e se caracteriza por mudanças físicas e psicológicas. É um momento psíquico de transição, de consolidação de valores mas também de vulnerabilidade.

 É entre a adolescência e a fase jovem que ocorrem os maiores níveis de uso de substâncias psicoativas pela primeira vez. Muitos são os fatores que podem levar ao consumo na adolescência: necessidade de aceitação pelo grupo já que é nesse período que o sujeito realiza uma passagem da família para o grupo social, também é um período de curiosidade, descobertas, aumento da impulsividade, desejo de fazer algo “adulto”, sensação de onipotência, insegurança devido às mudanças corporais, início da vida afetiva.

Devido a todas essas características, os jovens acabam passando de um estágio de uso a outro de forma muito rápida (do uso para o abuso), além de fazerem uso de diversas substâncias diferentes, normalmente da menos para a mais nociva.

Este é um período de desenvolvimento, onde ocorrem transformações físicas, emocionais, cognitivas e sociais e o uso de substâncias nessa fase pode comprometer esses processos. Vários estudos indicam que quanto mais cedo maiores as probabilidades de dependência.

O uso do álcool está entre os problemas mais graves, Segundo a Organização Mundial de Saúde o álcool é a substância psicoativa mais consumida por crianças e adolescentes. A média de idade no Brasil para o primeiro uso de álcool é de apenas 12,5 anos. Muitas vezes oferecido por amigos mas também oferecido pela própria família.

Pesquisas realizadas com usuários de álcool, cocaína, maconha, anfetaminas e êxtasy mostram claramente a existência de uma relação entre o consumo de drogas e as práticas sexuais de risco bem como a infecção pelo vírus HIV. Elas indicam ainda que adolescente que iniciam o uso de drogas em fases mais precoces se mostram mais propensos às relações sexuais de risco.

 
Fatores de Risco

Conhecer os fatores de risco, ou seja, fatores que podem levar o adolescente a procurar às drogas é uma possibilidade de prevenção da experimentação, bem como interromper o uso que já é frequente. Os fatores são Ambientais, Familiares e Individuais.

Os Fatores Ambientais são aqueles que oportunizam o uso das drogas: facilidade no acesso. A lógica é simples: se o jovem não tiver acesso, ele não usará.

Igualmente importantes são os Fatores Familiares: uso de drogas pelos pais, estrutura familiar precária, pouca supervisão dos pais, pais que não conseguem impor limites aos filhos, além de situações estressantes (mudança de cidade, de escola, perda de um ente querido.)

Estudos mostram que os adolescentes cujos pais têm como costume procurar localizar seus filhos, saber quem são seus amigos, o que eles fazem no tempo livre e como eles gastam seu dinheiro são os que apresentam menores taxas de envolvimento com drogas.” (Supera SENAD, Mod 01, pág 70)

 Temos ainda os Fatores Individuais (que não deixam de estar relacionados aos familiares) eles são subdivididos em:

-Filosofia de Vida do jovem que, por exemplo, vê a droga como algo normal.

-Características de Personalidade: autoestima baixa, insegurança, agressividade, impulsividade.

-Problemas Psiquiátricos: Transtorno de conduta (jovens que apresentam comportamentos anti-social que perturbam e incomodam, violando os direitos individuais das outras pessoas, como intimidações, agressões físicas, práticas cruéis, roubos, etc). Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção, Depressão, Ansiedade, bem como outros transtornos.

-Características Genéticas e Familiares- o histórico familiar do jovem se apresenta como um fator de risco para dependência de substâncias psicoativas.

Outros fatores também influenciam: cultura do uso, pertencer a grupos que usam a substância e consequentemente a necessidade de aceitação nesse grupo, sexualidade precoce, baixo desempenho escolar, sentimento de rejeição, ter sofrido abuso físico e mental.

 
Consequências do Uso

As consequências do uso de substâncias psicoativas na adolescência podem resultar em prejuízos para o jovem, emocional, psíquico e físico. Alguns perdurando para toda vida.

O álcool, por exemplo, diminui a atenção, a concentração e a memória numa época em que o desenvolvimento cognitivo é de extrema importância. O adolescente perde o interesse pela escola justamente nessa fase da vida em que o que ele aprende é crucial para o ingresso na carreira dos seus sonhos. O álcool também é um desinibidor, podendo despertar agressividade e comportamentos autodestrutivos. A maior causa de morte de jovens no Brasil é acidente no trânsito e o álcool é responsável por grande parte desses acidentes.

O uso frequente da maconha leva a uma perda da motivação e interesse não só na escola mas em diversas atividades que o jovem gostava antes. Essa perda de interesse vem acompanhada de irritabilidade, distração, problemas de concentração.

No caso dos meninos foi identificado a diminuição na produção de espermatozoide. “Maconha altera a motilidade dos espermatozoides e a cocaína, mesmo nos usuários sociais, pode provocar um comprometimento irreversível no túbulo seminífero, região do testículo onde são produzidos os espermatozoides. Vários trabalhos mostram esse efeito em animais induzidos a usar cocaína nos finais de semana.” (Dr. Sidney Glina é médico urologista, chefe do Departamento de Urologia do Hospital do Ipiranga (São Paulo/SP), diretor do Instituto H-Ellis e coordenador da Unidade de Reprodução Humana do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Ler mais aqui: http://drauziovarella.com.br/sexualidade/infertilidade-masculina/ )

 Nos usuários de maconha encontramos ainda alguns episódios de ataques do pânico e vários estudos relacionam o uso da maconha com desenvolvimento da Psicose (Abordarei esse assunto em um texto a parte). O uso continuado da cocaína pode levar a uma redução de dopamina no sistema nervoso, ocasionando um quadro de depressão.

 
Fatores de Proteção:

 Assim como existem os fatores de risco existem também os fatores de proteção, diretrizes que afasta o jovem das drogas e fortalece-o para que se torne um adulto seguro e protagonista de sua própria história, sem que ele precise depender de nenhuma substância. Quanto menos tempo de uso mais fácil é o processo de recuperação mas vale lembrar que o uso de drogas pode ser diminuído e interrompido qualquer que seja o tempo de uso e o grau de dependência do sujeito

 Os fatores de proteção na adolescência são:

  •  Bom relacionamento com a família
  • Ambiente familiar propício ao diálogo aberto
  • Supervisão e Monitoramento dos pais,
  • Pais que conhecem os amigos do jovem.
  • Noções claras de limites
  • Valores familiares como religiosidade e espiritualidade
  • Prática de atividades esportivas
  • Envolvimento e bom desempenho na escola
  • Estabelecimento de objetivos
  • Reconhecimento das qualidades dos adolescentes

 



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