segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Como estrelas na Terra, 2007






Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna



Taare Zameen Par, filme indiano de 2007, dirigido por Aamir Khan.  No Brasil: Como estrelas na Terra.

Ishaan é um menino de 9 anos diferente das outras crianças.  Ele não tem amigos.  Não consegue aprender a ler ou escrever. Na verdade o menino não faz “nada” direito: Não levanta na hora, se distrai durante banho, sequer amarra seu cadarço. Está repetindo o terceiro ano e tudo indica que ele será reprovado de novo. É rebelde, desobediente, enfrenta os meninos na rua, enfrenta seus pais.  Brinca em horas sérias, desenha em vez de estudar.

Na escola é frequentemente colocado de castigo, chamado de burro e desatencioso. Os colegas riem da sua falta de capacidade em responder questões simples. Ishaan não faz as tarefas de casa, não mostra as provas para os pais.  Estar na escola é terrível para ele e Ishaan começa a faltar aulas para ir para a rua.

Seus pais já não sabem o que fazer com Ishaan que é o contrário do seu irmão, Yohaan, o melhor da sua classe.  A mãe é carinhosa, mas está esgotada. O pai também não aguenta mais ameaçar e bater no menino e decide manda-lo para um rígido colégio interno. A escola tem fama de “domar cavalos selvagens”.

Lá o garoto precisa lidar com punições ainda mais severas além de se sentir sozinho, abandonado pelos pais. Ishaan é domado.

Começa a se isolar, como um animalzinho acuado, não é mais rebelde, já não desenha, não ri. Apenas se arrasta pela escola como a criança mais fracassada do mundo. Não fica feliz nem com a visita de seus pais e do seu irmão. Apático, de cabeça baixa, indiferente a tudo. Ishaan é tratado (e se sente) como o pior entre os piores.

Um professor temporário, Ninkumbk, começa a dar aulas na escola e ele é diferente de tudo o que as crianças já viram. É engraçado, divertido, canta, dança e toca flauta.  É esse professor que vê em Ishaan o que mais ninguém viu. O menino tem Dislexia.

E então tudo começa a fazer sentido, as desatenções de Ishaan, seu mau comportamento, suas dificuldades. A Dislexia é um transtorno genético da linguagem caraterizada pela dificuldade de decodificar letras e símbolos.  Nesse filmes vemos todos os sintomas do transtorno: Ishaan confunde letras simples, confunde palavras com grafias parecidas.  Tem dificuldade em seguir múltiplas ordens. Não consegue relacionar tamanho, velocidade e distância. Tem dificuldades para ler, escrever e soletrar. Até o mau comportamento de Ishaan é explicado pelo professor: “Por que dizer ‘Eu não consigo’, se que posso dizer ‘Eu não quero.’”

Esse professor é amoroso, paciente, trabalha as dificuldades de Ishaan e valoriza suas potencialidades.  A história é ambientanda na índia mas será que nossas escolas estão preparadas para lidar com as diferenças? Será que sabemos valorizar as diversas formas de inteligência?

Ninguém nunca viu o verdadeiro problema de Ishaan, comparavam-no com outras crianças e o achavam incapaz. Ninguém prestou atenção às verdadeiras habilidades de Ishaan, sua imaginação, sua criatividade, seu talento para pintura.

No filme o professor Rom Shankar Ninkumbk apresenta para a turma diversos exemplos de pessoas com dislexia importantes na história:  Albert Einstein, Leonardo Da Vinci, Thomas Edson, Pablo Picasso, Walt Disney,  Neil Diamond, Agatha Cristie.

A narrativa tem muitos momentos de música, como uma inserção de vários videoclipes. As músicas sempre corroborando com a história. Algumas dessas cenas são longas, mas não chega a cansar não.

O trabalho dos atores é muito bom, do garoto Darsheel Safary e principalmente de Aamir Khan, o diretor do filme que faz o papel do professor Ninkumbk. Com os olhos cheios de lágrimas, transmite a todos uma emoção mais que verdadeira.

Nós terminamos de assistir o filme nos perguntando quantos Ishaans existem por aí? É um filme cheio de ensinamentos. Obrigatório para pais, professores, psicanalistas, psicólogos e para todos que desejam se tornar alguém melhor através da compreensão do outro.  O filme mostra que toda criança é diferente. Cada uma tem seu ritmo próprio. Cada criança tem habilidades e capacidades únicas.

Assim como as estrelas são únicas.


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