quarta-feira, 26 de abril de 2017

Olha o aipim aêê!


Por Raquel Rocha
Comunicóloga,  Economista
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Especialista em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
 
"Olha o aipim aêê!" Ele passa todos dos dias na rua com seu carrinho de mão, já tarde da noite. Ele tem um vozeirão forte, achei que ele tinha uns 40 anos, mas depois vi que ele tem uns 20. Ele sobre e desce a ladeira gritando “Olha o aipim aêê!” às 20, 21, 22:00 horas... E ele sobe e desce empurrando seu carrinho de mão.
A primeira veze que ouvi “Olha o aipim aêê” achei estranho. Há séculos não via mais ninguém passar na rua gritando para vender nada. Lembrou-me quando morei no interio  do interior, naquela cidadezinha que de tão pequena nem cidade era ainda. Lá tudo vinha até a gente, o leite, as hortaliças, as frutas, aquela farinha e aquele café torradinhos na mesma madrugada... Achei que meu vendedor de aipim ia passar só aquela vez, senti –me inebriada de nostalgia e admiração e o deixei passar.

Mas ele passou a segunda vez, “Olha o aipim aêê” e eu quis escancaram a porta e sair esbaforida mas a rua estava escura, deserta, e eu sozinha em casa, meus critérios de segurança me retiveram dentro da fortaleza de coração partido.

Na terceira vez que ele passou eu estava decidida a comprar, já tinha deixado até o dinheiro separado, mas quando ouvi “ Olha o aipim aêê” estava no banho e mesmo saindo ensaboada, vestindo a roupa ao avesso, quando botei a cara na porta o vendedor já estava longe.

Hoje finalmente consegui alcançá-lo, gritei da janela “Moço, quanto é o aipim?” Ele gritou da rua “É dois e cinquenta Dona.” Aí eu disse feito criança “Separa dois que estou descendo!!!” 

Peguei meus dois pacotes de aipim como quem pegava dois tesouros. Não é que eu goste tanto assim de aipim, não é que a rua não tenha aipim à venda em cada esquina, é que eu olho para aquele homem subindo e descendo a rua tarde da noite com sua carrinho de aipim, trabalhando honestamente, suadamente, animadamente e eu não tenho como não sentir uma ADMIRAÇÃO monumental por esse ser humano...

E agora aqui em casa vai ser assim, aipim cozido, aipim frito, bolo de aipim, escondidinho de aipim, cocada de aipim, caldo de aipim, aipim com manteiga, com queijo, com ovo, com carne seca e me mandem receitas de aipim!!!

Porque sou dessas, movida pela Nostalgia e pelo Coração.

Olha o aipim aêê!

 
 
 
 
 

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