sábado, 3 de junho de 2017

A Transgeneridade na visão Fenomenológica




Por Raquel Rocha
Comunicóloga,  Economista
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Especialista em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna 


Um dos temas mais discutidos na contemporaneidade e que se apresenta como um grande desafio para os Psicólogos é a Transgeneridade. Transgêneros são pessoas que possuem uma identidade de gênero diferente do seu sexo biológico. A transgeneridade não é uma orientação sexual é uma identidade.

A hipótese científica pra os transgêneros é a de que nesses indivíduos o cérebro não se desenvolve em sintonia com a genitália do embrião. O psiquiatra do Hospital das Clínicas, Alexandre Saadeh em entrevista ao programa Fantástico da Rede Globo corrobora com essa explicação, segundo o médico no embrião humano a genitália se desenvolve por volta da décima semana mas nessa fase o cérebro ainda está se desenvolvendo e ainda não tem uma identidade de gênero. Somente na vigésima semana é que se denine a área no cérebro onde ocorre a identidade de gênero. Normalmente no embrião com órgão sexual masculino o cérebro se define como masculino. Da mesma forma, quando o órgão sexual é feminino, o cérebro se define como feminino. Mas em alguns casos o cérebro se desenvolve no sexo oposto ao órgão sexual, dando origem ao indivíduo transgênero. Um transgênero já nasce transgênero, não se torna transgênero pela criação dos pais, nem por escolha própria.
Um artigo feito por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston avaliou 40 trabalhos sobre o tema e aponta que a identidade de gênero é uma condição biológica que não pode ser modificada através de intervenção psicológica. A literatura até o momento monstra que ha diversas particularidades biológicas que podem definir a identidade de gênero, como características de algumas áreas do cérebro e genes relacionados à produção hormonal. (Fonte BBC)
 
A identidade de gênero independe da opção sexual uma vez que a pessoa transgênera pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual. No Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5.ª edição ou DSM-5 da Associação Americana de Psiquiatria de 2013 a transgeneridade ainda aparece como um distúrbio nominado de Disforia de Gênero (Códigos 302.6, 302.85 e 302.6) conceituada como “Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa” tendo como primeiro critério “Forte desejo de pertencer ao outro gênero ou insistência de que um gênero é o outro (ou algum gênero alternativo diferente do designado).”
Em 2015 a Organização Mundial de Saúde- OMS anunciou que deixaria de considerar transgeneridade um distúrbio. Segundo a organização estima-se que uma em cada cem pessoas sejam transgêneras.

Essa questão tem sido debatida como nunca antes em meios acadêmicos, médicos e religiosos, as vezes com informações científicas sérias as vezes permeada de preconceitos. Dentre todas as áreas de conhecimento que precisam compreender esse fenômeno a Psicologia se faz fundamentalmente importante. É condição sine qua non que os profissionais da atualidade debatam sobre a despatologização da transexualidade de forma séria, ética e embasada nos estudos mais recentes. As correntes psicológicas clássicas não se debruçaram especificamente sobre o tema transgeneridade, por motivos diverso: tabu, preconceito, desconhecimento médico da época. O que a princípio parece ser um fator limitador é na verdade uma ferramenta que nos deixa livre para pensar no sujeito por trás do rótulo de transgênero, sem tentar encaixa-lo em teorias. 
 
Como a corrente Humanista na visão Fenomenológica pondera, é importante pensar na pessoa por trás do diagnóstico. Pensar no sujeito trans dentro do seu contexto de dificuldades, enfrentamentos e principalmente dentro dos seus fatores de riscos. Muitas vezes o sujeito transgênero apresenta histórico de tentativas de suicídio, de automutilação, muitos são rejeitados pelas famílias e pelos amigos, sofrem assédio, preconceito e discriminação. Como resultado de seu sofrimento psíquico eles podem vir a desenvolver transtornos mentais como depressão, transtorno de estresse pós traumático e síndrome do pânico. É importante que a psicologia atue no sentido de fortalecer o sujeito para lidar todas as adversidades apresentadas e ao mesmo tempo  reconhecer-se como sujeito em toda sua singularidade. 
A despatologização nesse processo é de fundamental importância. A Fenomenologia busca justamente a especificidade do ser. Para o psicólogo Humanista, Marcos Alberto  Pinto (2007) “ precisamos encontrar a pessoa que existe e que está por trás do rótulo, pessoa esta que como todas, possuem sentimentos, histórias e sentidos.” O olhar para o sujeito, para sua história de vida, sua constituição psíquica, suas dores, suas angustias e acima de tudo trabalhar com sujeito, qualquer que seja a corrente psicológica, para que ele possa ser quem realmente ele é.

REFERÊNCIA
PINTO, Marcos Alberto. A Pessoa por trás do Diagnostico. VII Forum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa- Nova Friburgo 2007
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
BBC Brasil  “Na escola e na família, a difícil batalha de crianças transgênero por aceitação” http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150407_criancas_transgenero_uk_fn
PROGRAMA FANTÁSTICO- Rede Globo http://g1.globo.com/fantastico/